QUEIMADAS

Cenário no Brasil está 'muito propício' para novos incêndios, diz Marina Silva

A ministra do Meio Ambiente indicou que a situação dos incêndios não mudará muito ainda que estas metas sejam cumpridas
Por: AFP

Publicado em: 30/08/2024 15:49



Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (foto: Evaristo Sá/AFP)
Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (foto: Evaristo Sá/AFP)

A previsão de temperaturas altas, ventos fortes e a baixa umidade criam um "cenário muito propício" para novos incêndios no Brasil, onde as chamas já devastaram grandes áreas da Amazônia e outras regiões, declarou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

 

Há semanas o país luta contra incêndios florestais, sobretudo no norte, na Amazônia, a maior floresta tropical do planeta (com recordes de quase duas décadas), e no Pantanal (centro-oeste), maior área úmida tropical do planeta.

 

E as chamas não parecem ceder, com focos registrados também na savana do Cerrado.

 

"Vamos ter uma semana com temperaturas ainda mais altas, com ventos ainda mais velozes e com uma umidade muito baixa. E isso é um cenário muito propício a novas combustões e novas ignições", declarou a ministra, figura emblemática da luta contra a mudança climática no Brasil. 

 

Embora o quadro se anuncie crítico, Marina Silva afirmou que a situação seria "incomparavelmente pior", um "inferno de tanto incêndio, caso os níveis de desmatamento na Amazônia não tivessem sido reduzidos pela metade em 2023 em relação ao ano anterior.

 

No Brasil, os incêndios estão historicamente ligados ao uso da técnica da terra arrasada para a expansão agrícola ilegal.

 

 

"País vulnerável"

 

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em 2025 receberá a conferência climática das Nações Unidas COP30 em Belém, prevê acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030, após o aumento registrado durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022). 

 

Mas a ministra do Meio Ambiente indicou que a situação dos incêndios não mudará muito ainda que estas metas sejam cumpridas.

 

"É uma comprovação de que a floresta (amazônica) já está perdendo umidade. As outras regiões estão perdendo umidade. A bacia do Paraguai, no Pantanal, a cada ano ela diminui a cota de cheia por quatro anos consecutivos rios da Amazônia não conseguem atingir a cota de cheia. Essa é uma realidade que está se agravando. Nós somos um país vulnerável", declarou. 

 

Para ela, "se o mundo não parar de fazer a emissão de CO2, a temperatura da Terra vai continuar aumentando e as florestas vão continuar sendo destruídas não só no Brasil, mas no mundo".

 

"É fundamental fazer a transição para o fim do uso de combustível fóssil", acrescentou.

 

A rápida propagação dos incêndios também tem sido favorecida pela forte seca que atinge grande parte do país, resultado de fenômenos como El Niño e "uma química perversa de mudança do clima", afirmou a ministra.

 

As autoridades afirmam que os focos são causados pela ação humana e foram abertas investigações sobre suspeitas de incêndios intencionais no estado de São Paulo.

 

"Um fenômeno estranho que aconteceu, (...) esses incêndios aconteceram num período de tempo de 90 minutos, foram praticamente simultâneos em vários municípios", adicionou.

 

 

"Visão negacionista"

 

A ministra declarou "guerra" aos incêndios e ao crime organizado, que, afirma, incendeiam propriedades para exploração ilegal de minerais, madeira ou tráfico de drogas. 

 

Mas Marina Silva também diz que luta contra pessoas no Brasil que não adaptaram suas práticas à recorrência de fenômenos ambientais cada vez mais severos.

 

"É uma guerra também contra uma visão negacionista que insiste em não reconhecer o problema da mudança do clima", apontou.

 

As autoridades avançaram na dissipação das chamas. De acordo com dados oficiais, 52% dos incêndios na Amazônia estão controlados ou foram apagados, e 87% no Pantanal, regiões onde o governo federal enviou mais de 2.200 efetivos para combater os focos.

 

As nuvens de fumaça causadas pelos incêndios chegaram até Brasília, e provocaram a suspensão de voos em Rondônia. 

 

Mais de 1.500 municípios estão em situação de emergência, segundo a ministra.

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