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'Cidade de Deus: A Luta Não Para' atualiza e avança o universo do clássico original

Piloto da primeira temporada da série, com direção geral de Aly Muritiba ('Deserto particular', 'Cangaço novo'), acompanha a história do filme 20 anos depois e já está disponível no catálogo da Max

Publicado em: 28/08/2024 06:00 | Atualizado em: 28/08/2024 09:52

 (Divulgação/MAX)
Divulgação/MAX
A som do samba, da galinha e da faca sendo amolada, o público é transportado em um piscar de olhos a uma das favelas mais conhecidas do Brasil. Dessa vez, porém, em um formato diferente. O primeiro episódio de Cidade de Deus: A luta não para, nova série da Max, já está disponível no catálogo da plataforma e traz de volta boa parte dos personagens icônicos do filme dirigido por Fernando Meirelles e Kátia Lund, que fez história no cinema nacional e internacional, recebendo quatro indicações ao Oscar (melhor direção, roteiro adaptado, fotografia e montagem) e se tornando um fenômeno pop através das duas décadas que se seguiram.

Em 2004, Buscapé, que agora responde por 'Wilson' (Alexandre Rodrigues), está de volta, 20 anos depois dos eventos de Cidade de Deus, lançado em 2002 e ambientado no início da década de 1980. Agora como fotógrafo, que não consegue escapar do instinto de registrar os violentos confrontos entre a criminalidade local e a polícia, o protagonista se revela, novamente, uma porta de entrada para mundo tomado pelo tráfico, pela milícia e pela brutalidade das ações de operação especial (o BOPE). É um cenário de muita vida e grandes alegrias também, e logo nesse primeiro episódio a vocação do olhar para os afetos e brincadeiras da região fica bastante evidente – ainda que a tensão da violência esteja sempre palpável. 

Retornam Roberta Rodrigues, no papel de Berenice, e Edson Oliveira, como Barbantinho, enquanto caras novas, como Curió (Marcos Palmeira), novo dono da boca anteriormente ocupada por Zé Pequeno, e seu filho de consideração Bradock (Thiago Martins) e sua parceira, a impetuosa Jerusa (Andréia Horta) marcam boa presença.

A luta não para tem direção geral de Aly Muritiba (Deserto particular, Cangaço novo) e roteiro liderado por Sérgio Machado (O rio do desejo), com uma grande equipe de roteiristas responsável pelo desenvolvimento de diferentes níveis da história. A série terá um total de seis episódios e logo neste piloto –  exibido em primeira mão no 52º Festival de Cinema de Gramado, onde Aly Muritiba também apresentou seu novo longa Barba ensopada de sangue – fica clara a influência do contexto brasileiro nas bifurcações de trama que se apresentam no projeto. Enquanto o filme trabalhava com uma escalada de conflitos majoritariamente centrados no personagem Zé Pequeno, essa primeira temporada parece se espalhar utilizar o formato dilatado para se espalhar de modo mais gradual por distintas camadas da Cidade de Deus. 

Em entrevista ao Viver, o diretor falou sobre os desafios de comandar um projeto de tamanho legado, descrevendo como o trabalho mais complexo de sua carreira. "Foi muito importante tudo o que eu fiz até aqui no sentido de ter a segurança necessária para encabeçar um projeto dessa dimensão. Talvez quatro ou cinco anos atrás eu nem topasse fazer algo desse tamanho, com todo esse histórico e legião de fãs. Até bateu uma hesitação de alguns segundos quando o convite chegou, mas percebi rapidamente que a coisa iria acontecer de qualquer jeito e queria ser parte dela. Quando eu topo alguma coisa, eu topo pra valer”, afirmou.

O cineasta comentou ainda sobre a influência que o tempo presente e a sua visão sobre o país tiveram sobre o universo de Cidade de Deus. "Apesar da história se passar em 2004, eu acho que todos os elementos que estão na série dizem respeito a 2024: o empoderamento das populações pretas e periféricas, o protagonismo feminino cada vez maior (que é também uma marca desse projeto), a importância do papel da imprensa, a problematização da relação espúria entre política e polícia", explicou.
 
"Eu acho que todos os filmes e séries no fim das contas acabam falando muito mais sobre o momento em que são feitos do que sobre o período que estão retratando. Estamos produzindo arte, afinal, a partir do filtro do nosso tempo e dos nossos problemas. E, no caso aqui, isso é uma tomada de decisão totalmente consciente, desde a elaboração do roteiro até as decisões estéticas nas filmagens", concluiu Muritiba.
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