TEATRO

Espetáculo 'Salto' chega ao Hermilo Borba Filho com destaque para acessibilidade

Coletivo recifense Bote de Teatro faz adaptação da obra original 'Os músicos de Bremen', dos Irmãos Grimm, trazendo provocações políticas para o contemporâneo

Publicado em: 06/08/2024 06:00 | Atualizado em: 06/08/2024 11:20

 (Foto: Alan Rodrigues)
Foto: Alan Rodrigues
Ampliando suas ações de acessibilidade e atualizando discussões a partir de uma fábula clássica, o grupo Bote de Teatro traz ao Hermilo Borba Filho, no centro do Recife, hoje e amanhã, às 20 horas, a nova temporada do espetáculo gratuito Salto, primeira intervenção do coletivo em 2024. A peça é uma adaptação livre e adulta da obra Os músicos de Bremen, dos Irmãos Grimm, na qual, originalmente, quatro animais domésticos se rebelam contra os maus-tratos de seus donos e decidem fugir para se tornar músicos. Trazendo ao contemporâneo provocações políticas já refeitas de diferentes maneiras ao longo do tempo em outros trabalhos, o projeto estimula a inclusão e as diferenças desde sua concepção artística até a execução logística.

O coletivo recifense está ativo desde 2019 e é composto por Cardo Ferraz, Daniel Barros, Inês Maia e Pedro Toscano, trazendo neste projeto a atriz convidada Una Martins e a coordenadora de acessibilidade Priscilla Siqueira, fundadora da Vale PCD, primeira ONG voltada para o protagonismo de pessoas LGBTQIAPN+ com deficiência no Brasil. Para este espetáculo, a organização traz ações em libras, atividade sensorial/autodescrição, assistência de profissionais da acessibilidade, infraestrutura acessível e ainda parceria com o programa 'Pernambuco Conduz' para transporte acessível.

Um dos objetivos principais de Salto, utilizando a fábula como base, é expor problemáticas como muito antigas na sociedade (já que a obra original é do século 19), demonstrando como, no meio de diferentes momentos autoritários e/ou carregados de concepções distorcidas de poder, a arte insurge como provocação e despertar. A própria montagem Teatral de Chico Buarque, Os Saltimbancos, da década de 1970, também possui uma conexão clara com o período de exílio enfrentado pelo artista e por sua família. De acordo com o ator e diretor Pedro Toscano, a intenção do grupo ao reimaginar a estrutura era justamente propor um olhar mais adulto e representado por diferentes minorias, indo para um caminho bem diferente, ao final, de Os músicos de Bremen.

"Em 2019, a gente começou a escrever uma dramaturgia própria em que discutíamos questões da sociedade contemporânea e o que poderíamos fazer para, dentro do nosso alcance, encontrar uma forma mais justa de existir no mundo, de estar em grupo e de mover algo. Foi aí que esbarramos em Os Músicos de Bremen. Dentro do que estávamos pesquisando na época, claro que passamos também pelos Saltimbancos, mas como o trabalho de Chico é voltado para o lúdico e o infantil, nós acabamos voltando mesmo para a base dos Irmãos Grimm e a partir daí buscamos colocar uma carga política mais fria mesmo", contou o encenador em entrevista ao Viver. "Nossa provocação dessa vez é perguntar ao espectador que tinha Os Saltimbancos como espetáculo favorito da infância se ele de fato, hoje, acredita que juntos de fato somos fortes e vamos conseguir mudar o mundo? Estamos há muitos anos tocando nessa tecla e as coisas continuam aí, então precisamos refletir sobre a permanência de muitas coisas que nos assombram”.

Sobre a importância teatro democrático e acessível, Pedro ressaltou ainda como a acessibilidade destacada pelo projeto na verdade deveria ser em todos os projetos uma preocupação central. “A gente está tendo que tratar como algo extraordinário algo que deveria ser o mínimo no teatro, principalmente agora em que as coisas estão cada vez mais digitalizadas e imediatas e, portanto, uma de nossas preocupações é trazer o público de volta. Precisamos acolher todo mundo, independente de como cada um consegue absorver. As pessoas precisam estar aptas a ir ao teatro”, completou.
 
“Estamos proporcionando uma experiência imersiva para deficientes visuais, com visitas guiadas onde pessoas cegas e de baixa visão podem explorar as texturas, temperaturas das luzes, figurinos, conhecer o elenco e o espaço cênico por meio do tato, assim como disponibilizamos transporte acessível para buscar as pessoas com deficiência, com acompanhamento profissional neste ponto de encontro, facilitando o acesso ao teatro e possibilitando uma vivência tranquila e segura”, destacou Priscila Siqueira.
 
O projeto tem financiamento da Lei Paulo Gustavo, com apoio da Prefeitura do Recife.
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