ELEIÇÕES NOS EUA

Kamala Harris surpreende eleitorado com postura pró-armas: 'se invadir minha casa, leva tiro'

Em um país traumatizado por massacres armados, muitos americanos ficaram chocados com essa declaração
Por: AFP

Publicado em: 26/09/2024 17:25

Declaração ocorreu durante entrevista para Oprah Winfrey (foto: SAUL LOEB / AFP)
Declaração ocorreu durante entrevista para Oprah Winfrey (foto: SAUL LOEB / AFP)

Durante anos, Kamala Harris mal mencionou a arma que tem em casa, mas desde que começou a sua campanha para as eleições presidenciais de novembro nos Estados Unidos, ela não perdeu a oportunidade de trazer o assunto à tona.

 

"Eu tenho uma arma", repetiu a vice-presidente na semana passada no set da estrela de televisão americana Oprah Winfrey. 

 

É uma pistola ou um revólver? Não se sabe. A candidata democrata à Casa Branca não especificou nem revelou o fabricante. A única coisa que se sabe é que ela o guarda em local seguro, em sua casa na Califórnia.

 

"Se alguém invadir minha casa, levará um tiro", disse ela rindo para uma Oprah atordoada.

 

Em um país traumatizado por massacres armados, muitos americanos ficaram chocados com essa declaração. O Partido Democrata não deveria incorporar o combate à violência com armas de fogo pessoais?

 

Três especialistas explicaram à AFP que a vice-presidente pondera as suas palavras como parte de uma estratégia eleitoral.

 

 

Boa atiradora

 

"Kamala Harris quer evitar que seus críticos a retratem como contrária às armas. A maneira mais fácil de fazer isso é anunciar que ela possui uma arma", disse Joan Burbick, autor do livro "GunShow Nation: GunCulture and American Democracy".

 

"É muito interessante que tenha brincado com Oprah dizendo que atiraria em um intruso que invadisse [sua casa]. Os democratas geralmente são vistos como pouco rígidos com a criminalidade", afirmou Steffen Schmidt, professor de Ciências Políticas na Universidade de Iowa. 

 

Em 2019, Kamala Harris disse aos repórteres: "Tenho uma arma provavelmente pelos mesmos motivos que a maioria das pessoas: para minha segurança pessoal. Eu fui procuradora".

 

Quatro anos antes, em uma entrevista ao "Politico", ela admitiu ser "uma boa atiradora".

 

Em um país onde criticar a enorme quantidade de armas de fogo nas mãos da população pode levar a perder as eleições, a candidata escolheu um companheiro de chapa com perfil tranquilizador: Tim Walz, do Nebraska, que é caçador e ex-militar.

 

Cerca de um terço dos adultos e 40% das famílias americanas possuem pelo menos uma arma de fogo. 

 

Acredita-se que Donald Trump tenha três armas. Ele tinha autorização para porte de arma de fogo em Nova York que, segundo a imprensa, teria sido revogada após seu indiciamento e condenação por falsificação de documentos contábeis. 

 

O milionário, que sofreu duas tentativas de assassinato, declarou na quarta-feira que a sua vida estava diretamente ameaçada pelo Irã.

 

"Estou cercado por mais homens, fuzis e armas do que nunca", disse ele. 

 

O republicano, apoiado oficialmente pelo principal lobby de armas nos Estados Unidos, a National Rifle Association, acusou a sua rival de querer "confiscar" as armas dos americanos, violando a Segunda Emenda da Constituição. 

 

Mas a candidata nega categoricamente e limita-se a defender a necessidade de reforçar a legislação para controlar os antecedentes criminais e psiquiátricos dos compradores de armas.

 

 

Equilibrismo

 

Kamala Harris também se declara a favor da proibição dos fuzis de assalto semiautomáticos, mas deixou de defender um programa de recompra obrigatória dessas armas, que estão entre as mais letais. 

 

A ex-procuradora faz um equilibrismo com a questão da regulamentação das armas, que ocupa o sétimo lugar entre as preocupações dos eleitores para as eleições presidenciais de novembro, de acordo com uma pesquisa recente do Pew Research Center. 

 

Os proprietários de armas têm duas vezes mais probabilidade de serem republicanos do que democratas. Os defensores das armas são mais propensos a votar nos conservadores, enquanto os defensores de uma legislação mais rigorosa se inclinam para os democratas. 

 

"Mas estas são tendências, não absolutas", disse Gregg Carter, professor emérito da Universidade Bryant, em Rhode Island. 

 

"As eleições deste ano estão tão acirradas que cada candidato tenta obter alguns votos extras sempre que pode", explicou.

 

Na realidade, segundo este especialista, Kamala Harris "arrisca pouco" com o seu eleitorado ao dizer que tem uma arma em casa para se defender.

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