LUTO

Fãs de Liam Payne se reúnem em memorial para o cantor no Recife

No Parque Dona Lindu, admiradores do ex-membro da boyband One Direction prestaram suas últimas homenagens ao ídolo

Publicado em: 27/10/2024 18:04

Memorial para o cantor britânico aconteceu neste domingo (27) no Parque Dona Lindu (Foto: Cortesia)
Memorial para o cantor britânico aconteceu neste domingo (27) no Parque Dona Lindu (Foto: Cortesia)
Tradicionalmente palco de momentos de lazer, o Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, foi usado como cenário de despedida neste domingo (27). Durante a tarde, dezenas de pessoas ocuparam o local para dar adeus ao cantor Liam Payne, de 31 anos, que perdeu a vida no dia 16 de outubro deste ano. 

O artista, que ficou conhecido como um dos membros da boyband britânica One Direction, morreu ao cair do terceiro andar do hotel Casa Sur, na Argentina. Desde então, ao redor do mundo, fãs têm se reunido para homenageá-lo uma última vez. 

No Recife, o memorial para Liam foi organizado pela esteticista Nayra Estephany, 23 anos, que passou a última década acompanhando a sua carreira. “Na adolescência nós criamos uma conexão muito boa com os artistas de que gostamos, e comigo não foi diferente. Eu conheci a One Direction e tive uma conexão muito boa com eles, uma troca. Poder passar uma parte da minha adolescência os acompanhando foi muito bom”, conta, relembrando a importância da banda – e do próprio Liam – na formação da pessoa que ela é hoje.

“Eu não sabia quem eu era ou quem eu queria ser no futuro. Em momentos difíceis, em que eu achei que estava sozinha, eles sempre estavam lá, com palavras de apoio e momentos engraçados pra nos distrair. Conhecer a One Direction para mim realmente foi maravilhoso. Salvou a minha vida de diversas formas, foi incrível”, acrescenta.

Há 11 dias, contudo, Nayra, assim como o resto do mundo, foi pega de surpresa pela trágica morte de Liam, de quem também era fã enquanto artista solo. “Quando eu soube, o meu mundo realmente desabou, foi como se tivessem arrancado o meu coração, foi horrível”. 

Algum tempo depois, sua tristeza foi transformada em algo a mais: o desejo de dizer adeus. No WhatsApp, um grupo que, até o momento, conta com mais de 450 participantes, foi criado, todos unidos pela mesma dor. As conversas culminaram em um grande encontro, marcado por música, abraços e lágrimas. 

A despedida 

Ao longo da tarde, os fãs que foram ao Parque Dona Lindu se revezaram para falar sobre a história de Liam, além de debater temas como saúde mental e o luto experimentado por pessoas que perdem seus ídolos. 

No violão, um dos admiradores presentes tocou músicas que marcaram a carreira do cantor, tanto na One Direction, onde ele ficou por cinco anos, quanto durante a sua trajetória individual.
 
 (Foto: Cortesia)
Foto: Cortesia
 

Flores, cartazes e fotos encheram o gramado do local, que, no fim do dia, foi palco de uma oração e uma rodada de aplausos em homenagem ao artista. 

Eduarda Priscyla, 22 anos, encontrou no memorial um espaço seguro para falar sobre tudo o que sentiu nos últimos dias. “É difícil explicar para quem não está passando pela mesma coisa, mas aqui todos estamos experimentando sentimentos parecidos. Foi bom me sentir compreendida”, comenta. 

Recife não foi a única cidade a receber um evento como esse. Através das redes sociais, memoriais para Liam foram agendados para diversas cidades ao redor do Brasil e no mundo.

Em Londres, capital da Inglaterra, onde a One Direction foi formada, admiradores de Payne se reuniram no Hyde Park, enquanto em Paris, na França, o encontro aconteceu no Jardim das Tulherias, próximo à Torre Eiffel. 

Homenagens para o cantor também foram registradas em Buenos Aires, na Argentina, cidade em que ele morreu, e em Lima, no Peru, onde imagens de sua vida foram projetadas no Circuito Mágico das Águas, uma das principais atrações turísticas do local. 

O luto de fãs

Para Nayra, os memoriais organizados por fãs cumprem a missão de ajudar a reviver as boas memórias criadas com o artista e se despedir. “Quando nós nos despedirmos dele, talvez a dor amenize e caia a nossa ficha de que ele se foi. Eu acho que ele merece essa despedida, e nós também”, opina emocionada.
 
 (Foto: Cortesia)
Foto: Cortesia
 

Esse ponto de vista é reforçado pela psicóloga Brunna Lima, que afirma, ainda, que encontros como o realizado no Recife podem validar as emoções dos seus participantes, além de criar um espaço em que elas são reconhecidas e partilhadas: “Isso pode ajudar a reduzir um pouco o impacto de pensamentos automáticos negativos ou distorcidos, como, por exemplo, ‘eu não tenho direito de estar triste’ ou ‘meus sentimentos não são válidos’”. 

“O memorial também oferece a oportunidade de transformar a perda em uma experiência mais construtiva, de celebrar de uma forma impactante a figura pública, celebrar o impacto que ela teve na vida dos fãs. Isso pode ajudar a mudar um pouco o foco de que ela se foi para que ela deixou um legado importante”, acrescenta. 

A dor sentida por fãs, embora minimizada por uma parte da população, pode ser explicada com a ajuda da ciência. De acordo com Brunna, o sentimento está relacionado a uma conexão emocional que se desenvolve ao longo do tempo. 

“Mesmo sem um relacionamento direto, fisicamente falando, os fãs constroem um vínculo significativo com a figura pública por meio de vários fatores”, explica a especialista, citando a conexão com músicas, mensagens e a própria imagem pública da pessoa famosa como exemplo. “Esses elementos refletem suas próprias experiências, emoções, valores, o que leva aí a uma identidade. O cantor, nesse caso, pode representar algo importante na vida de uma pessoa, como apoio emocional em momentos difíceis ou uma inspiração”. 

Brunna destaca, ainda, a presença constante de figuras públicas na vida cotidiana de seus fãs através de redes sociais, entrevistas e aparições públicas, e o significado atribuído a elas por aqueles que a acompanham, como alguns dos fatores responsáveis pelo sentimento de perda que surge após suas mortes.

Por fim, a especialista menciona as redes sociais como catalisadoras do luto de fãs, uma vez que a dor pode ser intensificada quando sentida em comunidade. “Ao ver outras pessoas expressando tristeza, compartilhando memórias, o processo de luto se torna meio que coletivo, o que reforça a ideia de que a perda é significativa”, completa.

Nayra, que não teve a chance de conhecer seu ídolo pessoalmente, está sentindo em primeira mão a dor de perder alguém com quem nunca encontrou pessoalmente. “Uma das coisas mais bonitas da vida é você ter essa troca com uma pessoa quem você é fã. Então, as pessoas nunca vão entender o que a gente passa, o que a gente passou. Acho que o mais importante não é ter conhecido ele pessoalmente, sabe? É a memória afetiva que nós temos dele. Todo luto deve ser verdadeiro e nenhum tipo de luto deve ser banalizado, todos eles são importantes e eles devem ser respeitados”, pontua.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL