ELEIÇÕES LEGISLATIVAS

Presidente da Geórgia acusou Moscou de fraudar eleições no seu país

Para a presidente da Geórgia, a fraude uniu inúmeros métodos, abrangendo os tradicionais, como a compra de votos e a pressão sobre os titulares de cargos públicos

Publicado em: 28/10/2024 17:58

Presidente da Geórgia, Salomé Zourabichvili (foto: Vano SHLAMOV / AFP)
Presidente da Geórgia, Salomé Zourabichvili (foto: Vano SHLAMOV / AFP)

A presidente da Geórgia, Salomé Zourabichvili, pró-ocidente, acusou a existência de um sistema sofisticado de fraude relacionado à Moscou, que permitiu ao partido no poder vencer as eleições legislativas do sábado passado. “Nada parecido aconteceu antes, nos tiraram o direito a eleições justas. Foi uma eleição ao estilo russo. Esta fraude foi feita através da implementação de uma metodologia russa, uma operação especial e uma forma moderna de guerra híbrida contra o povo georgiano. É muito difícil acusar um Governo e esse não é o meu papel, mas o processo usado na fraude é russo. E é difícil lidar com a Rússia porque o país é ameaçador”, denunciou.

 

Para Zourabichvili, a fraude uniu inúmeros métodos, abrangendo os tradicionais, como a compra de votos, pressão sobre os titulares de cargos públicos e as famílias de detidos a quem pode ser prometida a libertação, além de terem distribuído dinheiro na saída dos locais de votação. "Este planejamento, esta sofisticação, este rigor nos alvos ultrapassa aquilo que um governo clássico consegue fazer para se manter no poder”, considerou.

 

A presidente georgiana, que embora não possua poder sobre a política interna,  anunciou inicialmente que a oposição pró-europeia tinha ganhado com base nas sondagens de boca de urna. Mas, segundo a Comissão Eleitoral, o partido Georgian Dream (Sonho Georgiano), liderado pelo bilionário e oligarca Bidzina Ivanishvili, recebeu cerca de 54,08% dos votos, partido no poder desde 2012 na ex-república soviética do Cáucaso, contra 37,58% dos votos alcançados pela Coligação para a Mudança, que defende a adesão à União Europeia.

 

Mas, também os primeiros 20 candidatos da lista do bloco pró-europeu da Coligação para a Mudança renunciaram no domingo aos mandatos na Geórgia, em protesto contra os resultados das eleições parlamentares de sábado. "As eleições foram falsificadas e os resultados são ilegítimos. Não queremos legitimá-los com os votos que foram roubados ao povo georgiano e renunciamos aos mandatos", afirmou Nana Malashjia, uma das que abdicaram.

 

A oposição não reconhece a vitória e, além disso, tem delatado que o partido e Ivanishvili aproximam a Geórgia da Rússia e afastam a possível adesão à UE e à Aliança Atlântica, dois objetivos consagrados na Constituição do país. A aproximação já causou, inclusive, a ‘paralisação’ na Comissão Europeia da sua entrada ao bloco europeu. 

 

O primeiro-ministro, Irakli Kobakhidze, por sua vez, qualificou a vitória do Sonho Georgiano como impressionante e óbvia. “Qualquer tentativa de falar sobre manipulação eleitoral está condenada ao fracasso", comentou. Kobakhidze, que mantém políticas de aproximação com Moscou, garantiu ainda hoje que a integração do país na UE é uma primazia do país. "A nossa principal prioridade em matéria de política externa é, evidentemente, a integração europeia. Espero que as relações com Bruxelas sejam reavivadas após as fortes tensões registradas nos últimos meses. Tudo será feito para garantir que a Geórgia esteja totalmente integrada na UE até 2030", garantiu Kobakhidze.

 

Já a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se manifestou e defendeu que as irregularidades nas eleições legislativas devem ser investigadas. "As pessoas da Geórgia lutam pela democracia. Têm o direito de saber o que aconteceu no fim de semana. As irregularidades têm de ser investigadas rapidamente, de maneira transparente e independente", disse. 

 

Os observadores internacionais da União Europeia (UE), da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) também denunciaram no domingo que as eleições de sábado na Geórgia foram marcadas por irregularidades, coerção, violações do sigilo do voto, descrevendo o ato eleitoral como prova do declínio da democracia no país.

 

Em contrapartida, o Kremlin negou as acusações, classificando-as de completamente infundadas. "Rejeitamos firmemente tais acusações. Não houve qualquer intervenção. As acusações são totalmente infundadas", declarou Dmitri Peskov, porta-voz da presidência russa.

 

 

Milhares protestam em Tbilissi contra vitória de partido pró-russo

 

Zourabichvili instou a população a uma manifestação hoje e foi atendida. Uma multidão esta reunida em frente ao edifício do parlamento, na capital Tbilissi, apoiando as forças políticas de oposição que acusam o partido do Governo de ter ‘roubado’ as eleições.

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