ENTREVISTA

Renata de Almeida, diretora da Mostra de São Paulo, enaltece a variedade do cinema brasileiro

A produtora de cinema e curadora está à frente na diretoria do evento desde 2011 e conversa com o Viver sobre detalhes de um dos principais

Publicado em: 16/10/2024 12:49 | Atualizado em: 16/10/2024 12:53

 (Arte oficial da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é um storyboard do longa 'A canção da estrada', dirigido pelo indiano Satyajit Ray.)
Arte oficial da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é um storyboard do longa 'A canção da estrada', dirigido pelo indiano Satyajit Ray.
A 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, um dos eventos mais aguardados do mercado audiovisual do ano, terá sua abertura nesta quarta-feira (16) na Sala São Paulo com a exibição da cinebiografia Maria Callas e segue até o dia das premiações em 31 de outubro, é um dos eventos mais aguardados do mercado audiovisual do ano no Brasil pela sua quantidade e variedade de gênero e países de filmes envolvidos na programação.

Este ano, a Mostra contará com mais de 400 filmes no total, entre eles os aguardos Ainda estou aqui, de Walter Salles, Anora, de Sean Baker, Tudo que imaginamos como luz, de Payal Kapadia, O senhor dos mortos, de David Cronenberg, e o pernambucano Lispectorante, de Renata Pinheiro.
 
Em conversa com o Viver, a diretora do evento, a produtora e curadora Renata Pinheiro, que está à frente da Mostra desde 2011, destaca a importância da variedade da programação, explica a homenagem da arte oficial e enaltece a força do cienema brasileiro, em especial o pernambucano.
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Poderíamos dizer que esta edição da Mostra está gerando uma comoção e uma expectativa ainda maior do que as anteriores? 
 
"Nos últimos dois anos nós também trouxemos os filmes vencedores da Palma de Ouro, por exemplo, mas talvez o vencedor dessa última edição do Festival de Cannes, o Anora, seja mais 'popular', por assim dizer, então dá um pouco essa impressão de que existe uma expectativa ainda maior para a programação da Mostra. É, de fato, um filme muito especial, além de ser raro uma comédia aberta como essa vencer a Palma. Muito aguardado este ano também é o Dahomey, que venceu o Urso de Ouro em Berlim. E, principalmente, o Ainda Estou Aqui realmente conseguiu juntar uma torcida gigante mesmo antes de as pessoas verem o filme, o que é muito bacana. Eu estou muito feliz de o filme ter escolhido participar da nossa programação, porque é realmente um filme lindo e super importante para falar sobre a nossa história."
 
Muito tem se falado nas redes sociais sobre a dificuldade de conseguir ingressos para sessões mais disputadas da Mostra. Qual a sua expectativa para a participação do público nas diversas sessões desta edição?
 
"A minha expectativa é que se as pessoas não consigam ingressos para esses mais esperados, que elas tentem aproveitar para ver outros filmes. Esta é um pouco a graça da Mostra: a oportunidade de ver filmes que em vários casos nem conseguem distribuição nos cinemas brasileiros, o prazer da descoberta de títulos que você mal conhecida, de autores que estão começando a desenvolver sua linguagem, a troca das conversas antes e depois de cada sessão, o ato de entrar na sala sem ter ideia do que vai assistir e ser surpreendido. Tudo isso faz parte da nossa tradição, tanto que frequentemente estamos revendo diretores na programação."
 
Qual a principal dica que você daria para quem está indo para a Mostra pela primeira vez?
 
"Eu sempre recomendo para quem está indo pela primeira vez que seja um pouco ousado nas suas escolhas, se deixe surpreender. O site da Mostra, inclusive, auxilia muito nisso, porque ele é muito completo, com as sinopses, as equipes, trailers e todas as informações mais importantes, então quando a gente se programa bem, consegue aproveitar bastante coisa. Mas o principal mesmo é a conversa e as dicas com as outras pessoas; frequentemente tem grupos que se formam para compartilhar informações. Esse número avantajado de filmes pode deixar as pessoas perdidas e sem saber por onde começar e por isso mesmo que essas trocas fazem tanta diferença na hora de selecionar o que ver."
 
Como surgiu a ideia da arte/poster em homenagem ao diretor indiano Satyajit Ray?

"Satyajit Ray é um mestre do cinema indiano e mundial, admirado inclusive por grandes mestres como Akira Kurosawa e Martin Scorsese, que falam muito dele. Quando a Índia nos procurou no ano passado em uma ação de mercado na Mostra, uma ação de encontro de ideias, pensamos em ampliar isso e fazer um foco na Índia, aproveitando essa presença grande que eles vão ter aqui na Mostra nesta edição e fazer uma curadoria especial para o cinema indiana. E o Satyajit Ray é o nome mais clássico deles e além de tudo é um artista gráfico extraordinário, com muitos trabalhos em desenho, então resolvemos fazer o poster deste ano a partir da arte dele, com ajuda do seu filho, que nos apresentou e sugeriu inúmeras coisas que ele fez. E esse storyboard que usamos é do primeiro filme dele, o Canção na estrada, que está contemplado na programação e é uma obra-prima."
 
Como a 48ª Mostra está refletindo a força do cinema brasileiro deste ano, para além da presença do esperado Ainda estou aqui? 
 
"Pedimos ineditismo aqui para os filmes estrangeiros, mas para o cinema brasileiro nossa ideia é justamente fazer um grande panorama do que foi a produção ao longo do ano. Como a Mostra é no final do ano, é uma forma até de mostrar essa variedade dos filmes nacionais. E o cinema pernambucano, em particular, está em alta há muito tempo, tem uma política do cinema muito forte. De Kleber a Lírio, de Marcelo Gomes a Cláudio Assis e Renata Pinheiro, o que tem uma influência muito poderosa no cenário do cinema nacional como um todo - e é claro que isso vai se refletir na Mostra também. E queremos muito mais, sempre!"
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