FREVO DE BLOCO
Blocos líricos levam tradição carnavalesca às ruas no Dia do Frevo de Bloco
Em edição especial do projeto Arrastão do Frevo, mais de 25 blocos líricos se encontram neste domingo, no Marco Zero, para festejar o Dia do Frevo de Bloco e o aniversário de 120 anos de Edgard Moraes
Por: Allan Lopes
Publicado em: 02/11/2024 06:00 | Atualizado em: 02/11/2024 02:38
Foto: Hugo Muniz |
O Paço do Frevo saúda, neste domingo, os 20 anos do Dia do Frevo de Bloco, criado em 1º de novembro de 2004 em homenagem ao centenário de nascimento do grande músico e compositor recifense Edgard Moraes (1904-1974). O encontro integra o Arrastão do Frevo, que leva cortejos do museu ao Bairro do Recife, e traz a participação do Coral Edgard Moraes e do maestro Marcos César. A celebração tem início às 15h, no Marco Zero, com mais de 25 blocos líricos e muita tradição pelas ruas.
Às 16h, as agremiações partem em cortejo com a Orquestra Evocações, dirigida pelo maestro Barbosa. Ao final do percurso, às 17h, o público será recebido com um show do Coral Edgard Moraes, acompanhado por uma orquestra de pau e corda sob a regência do maestro Marco César. Estão confirmadas participações especiais de Getúlio Cavalcanti, Dalva Torres, Spok, Nena Queiroga, Rafael Marques e Isadora Melo. Desde 2004, a comunidade do frevo — composta por músicos, compositores, dançarinos, artesãos, foliões e agremiações — se reúne anualmente para celebrar o Encontro de Blocos Lírico.
O Coral Edgard Moraes não leva apenas o nome do compositor, arranjador e violonista, mas carrega, literalmente, o seu DNA. Formado por filhas, netas, bisnetas e sobrinhas de Edgard, que também atendia pela alcunha de “General Cinco Estrelas da Folia”, o grupo arrasta, há mais de três décadas, uma multidão de foliões pelas ruas do Recife Antigo. Elas cantam e tocam clássicos frevos de Edgard, como Valores do Passado, que é o hino do Bloco da Saudade, além de canções memoráveis como O Bom Sebastião e Último Regresso, de Getúlio Cavalcanti.
Faltando pouco para seus 40 anos em 2027, o Coral Edgard Moraes almeja dar continuidade ao legado do músico, que faria 120 anos na última sexta-feira, através das futuras gerações da família. “Uma pedra fundamental do nosso coral é minha mãe, que nos impulsiona, alimenta e inspira a dar continuidade a esse trabalho. Hoje, minha filha e minha sobrinha também fazem parte disso, já são bisnetas de Edgard. Tentamos levar esse legado às novas gerações, para que tenha continuidade”, diz Valéria Moraes, neta de Edgard, além de cantora e produtora artística do Coral.
“Edgard Moraes é uma referência nesse manancial de pessoas, vozes, compositores que deram sua contribuição inestimável para a história do frevo. Hoje temos a filha e a neta dele (Nana e Valéria) que fazem parte do Coral Edgard Moraes, que estão juntas conosco e fazem parte dessa comunidade do frevo. Isso atesta a atemporalidade da obra de Edgard. São melodias que todo mundo canta e reconhece. Celebrá-lo é uma forma de celebrar a própria história do frevo, de mostrar que pra gente, poder ter o frevo vivo o ano inteiro, a gente tem que olhar pro passado e trazer esses ícones pra reverberar no presente”, afirma Luciana Félix, diretora do Paço do Frevo.
O Frevo de Bloco, tradição do carnaval recifense, é executado por um Coral Feminino e uma orquestra de pau e corda, que inclui violões, cavaquinhos, banjos, bandolins, violinos, flauta, clarinete, além de percussão como surdo, caixa e pandeiro. O ritmo embala os blocos carnavalescos mistos, frequentemente creditados por legitimar a presença feminina nas ruas do Recife do século 20 - uma visão que Luiz Vinicius Maciel, historiador do Paço do Frevo, contesta. “Apesar do contexto misógino e patriarcal do início do século 20, existia a presença de mulheres, inclusive em práticas como a capoeira. Assim, eu não atribuiria exclusivamente aos blocos a inclusão das mulheres no frevo. Eles foram uma via para algumas mulheres de bairros e famílias mais restritas no carnaval, mas não foram a única."
Valéria Moraes ressalta a importância de preservar o lirismo dos antigos carnavais. “Os blocos líricos desempenham um papel fundamental ao transmitir às novas gerações o que temos de mais bonito nas marchas de bloco e nos frevos de bloco. Eles reverenciam a tradição e a história do carnaval, trazendo um legado que foi plantado por Edgard Moraes, Capiba, Nelson Ferreira, Luiz Bandeira e outros grandes mestres da nossa cultura e do nosso frevo”, afirma.
Atualmente, o Frevo de Bloco é defendido com maestria por agremiações recifenses como Bloco da Saudade, O Bonde Bloco Lírico, Bloco das Flores, Bloco das Ilusões, Bloco Compositores e Foliões, Boêmios da Boa Vista, Cordas e Retalhos. entre outras. Célebres gerações de compositores do Frevo, como os irmãos Edgard Moraes e Raul Moraes, Capiba, Nelson Ferreira, João Santiago, Luiz Faustino, José Menezes, tradicionalizaram o Frevo de Bloco, inspirando os defensores atuais do gênero, entre eles Getúlio Cavalcanti, Claudio Almeida, Humberto Vieira, Fernando Azevedo, Fátima e Bráulio de Castro, Luiz Guimarães, Mauricio Cavalcanti, Marcelo Varela e Rafael Marques.
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