GUERRA

Israel notifica a ONU do fim da Agência de Apoio aos Refugiados Palestinos no país

Cancelamento da UNRWA no território israelense e nos ocupados foi aprovado recentemente pelo Parlamento do país

Publicado em: 04/11/2024 13:02 | Atualizado em: 04/11/2024 15:26

 (Foto: JAAFAR ASHTIYEH / AFP)
Foto: JAAFAR ASHTIYEH / AFP
O governo de Israel notificou formalmente à Organização das Nações Unidas o fim do acordo que prevê o funcionamento da Agência de Apoio aos Refugiados Palestinos (UNRWA, sigla em inglês) no seu país. O cancelamento da UNRWA no território israelense e nos ocupados foi aprovado recentemente pelo Parlamento do país, que alega envolvimento de funcionários com o Hamas.

Em contrapartida, a ONU alerta para o colapso na Faixa de Gaza. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, foi categórico: "Não há alternativa à UNRWA. É a espinha dorsal da ajuda humanitária na região", afirmou.
 
A UNRWA fornece ajuda e assistência básica aos refugiados palestinos nos Territórios Palestinos e em vários outros países da região. Segundo Jonathan Fowler, porta-voz da UNRWA, se a lei for implementada, corre o risco de causar o colapso da operação humanitária internacional em Gaza, organizada em sua maior parte pela ONU.  Mas, a proibição também deve prejudicar a ação dos funcionários da agência da ONU na Cisjordânia ocupada, uma vez que podem ter dificuldade para se deslocar ou entrar em Jerusalém Oriental, ou Israel, sem coordenação com as autoridades israelenses. A agência fornece ajuda essencial de educação, saúde e assistência aos refugiados nos territórios palestinos e na região há mais de 70 anos.
 
As Nações Unidas e diversos aliados ocidentais demonstraram preocupação com a decisão israelense. Há temores da comunidade internacional de que a situação humanitária em Gaza, que já é extremamente precária, possa piorar substancialmente e colapsar.
 
As autoridades norte-americanas haviam apelado a Israel para que suspendesse a aplicação das leis contra a UNRWA, mas, na prática, apenas Washington se recusou a retomar o financiamento da agência, depois de os outros países que o retiraram na sequência das acusações de Israel terem decidido reverter essa decisão, perante a ausência de provas e porque a UNRWA é responsável pela distribuição da pouca ajuda humanitária que ainda consegue entrar em Gaza. A população do território devastado enfrenta a pior crise de segurança alimentar já identificada pela ONU no mundo. 
 
Enquanto isso, o Ministério das Relações Exteriores de Israel prometeu que as atividades de outras organizações internacionais serão expandidas como parte de medidas para promover alternativas à UNRWA.  "O Estado de Israel está comprometido com o direito internacional e continuará a facilitar a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza de uma maneira que não prejudique a segurança dos cidadãos israelenses", argumentou Israel Katz, ministro das Relações Exteriores israelense.
 
Em um comunicado, o embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, também declarou que as Nações Unidas não fizeram nada para lidar com a realidade de que o Hamas se infiltrou na agência, apesar das evidências que Israel forneceu à organização.
 
Por outro lado, a UNRWA, que tem cerca de 30 mil empregados em todo o mundo, despediu dez dos 12 trabalhadores inicialmente identificados por Israel em janeiro (dois já estavam mortos) por alegada participação nos ataques de 7 de outubro. Posteriormente, Israel acusou sete outros funcionários de terem participado nos ataques.
 
Após uma investigação interna, a ONU concluiu que nove dos 19 funcionários assinalados poderiam ter estado envolvidos nos ataques, mas esclareceu que o gabinete de investigação não estava em condições de verificar de forma independente a maior parte das informações apresentadas por Israel.

Além disso, a agência foi submetida a um processo independente de revisão dos seus mecanismos de neutralidade, liderado pela ex-ministra das Relações Exteriores da França Catherine Colonna, que concluiu que a UNRWA possui um dos sistemas mais desenvolvidos dentre as agências da ONU para manter a sua neutralidade, mas fez uma série de recomendações para reforçá-la.
 
Já as forças de Israel mataram pelo menos 233 funcionários da UNRWA durante a sua guerra em Gaza.
 
Colonos israelenses atacam edifício na Cisjordânia 

Na madrugada de domingo (3), um grupo de colonos israelenses causou um incêndio em um prédio em Al-Bireh, na Cisjordânia. O ataque também atingiu diversos carros, que foram consumidos pelas chamas. Até o momento não há registro de feridos.
 
O incêndio aconteceu poucas horas antes de Israel comunicar à ONU do cancelamento das atividades da UNRWA no território israelense e nos ocupados.
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