CÚPULA DO G20
Turbulências globais marcam o início da cúpula do G20 no Rio
Início da cúpula do G20 ocorreu nesta segunda-feira (18) no Museu de Arte Moderna, no Rio de JaneiroPublicado em: 18/11/2024 17:46 | Atualizado em: 18/11/2024 17:59
foto: LUDOVIC MARIN/AFP |
Embora o Brasil quisesse evitá-lo, as guerras na Ucrânia e em Gaza marcaram os debates no início da cúpula do G20 nesta segunda-feira (18) no Rio de Janeiro, enquanto o presidente chinês, Xi Jinping, alertou que o mundo entra em um período de grandes mudanças.
Depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu o encontro dos maiores líderes mundiais com o lançamento de uma ambiciosa aliança global contra a fome, Joe Biden se fez presente.
Um dia depois de autorizar Kiev a usar mísseis americanos de longo alcance contra alvos militares russos, o líder democrata pediu apoio à soberania da Ucrânia.
"Os Estados Unidos apoiam fortemente a soberania e a integridade territorial da Ucrânia. Todos nesta mesa deveriam fazer o mesmo", disse Biden no seu discurso, na presença do ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov.
No último fim de semana, a Rússia realizou um dos piores ataques dos últimos meses em solo ucraniano.
Após a autorização de Washington para o uso de mísseis por Kiev, o premiê britânico, Keir Starmer, mostrou-se evasivo no Rio ao comentar os planos de Londres: "Não vou entrar em detalhes operacionais, porque o único vencedor, se fizermos isso, é [o presidente russo Vladimir] Putin", disse.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, reiterou que Berlim é contra a entrega de mísseis de longo alcance à Ucrânia, mas que enviará 4 mil drones dotados de inteligência artificial.
Biden também pediu aos colegas que "aumentem a pressão" para que o Hamas aceite um cessar-fogo, algo que o movimento islamista "atualmente rejeita", para pôr fim ao conflito com Israel.
"O mundo está entrando em um novo período de turbulência e mudança", resumiu Xi Jinping ao se reunir com Starmer.
Trump e o clima
Mesmo antes da abertura, não estava previsto um consenso fácil sobre as questões dominantes, inclusive a mudança climática.
O texto final do G20 "já está fechado, mas alguns países querem abrir alguns pontos sobre as guerras e o clima", explicou nesta segunda-feira uma fonte do Itamaraty.
Os líderes das principais economias do planeta, que representam 85% do PIB global e 80% das emissões de carbono, buscam desbloquear pontos como o financiamento da luta contra a mudança climática e a transição das energias fósseis para energias limpas.
No domingo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, instou-os a fazer "concessões" para permitir "um resultado positivo na COP29", que acontece em Baku (Azerbaijão).
"O fracasso não é uma opção", disse Guterres, enquanto o mundo caminha para um novo recorde de temperatura global este ano.
Nas negociações climáticas, o retorno de Donald Trump à Casa Branca em janeiro é igualmente importante. O republicano garantiu que retirará mais uma vez os Estados Unidos do Acordo de Paris, o que poderia dificultar os esforços da comunidade internacional.
Aliança contra a fome
Lula expressou, no domingo, o desejo de que as guerras não monopolizassem a cúpula para que os líderes se concentrassem nas necessidades dos mais pobres.
Como havia prometido, lançou uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza para acabar com esta "chaga que envergonha a humanidade", à qual aderiram 82 países.
A aliança propõe erradicar a fome e a pobreza até 2030, além de reduzir as desigualdades.
A Argentina, liderada pelo ultraliberal Javier Milei, aderiu à iniciativa de última hora, após o seu lançamento, explicou uma fonte brasileira à AFP.
Milei e Lula, que mantêm uma relação tensa desde antes de o governante argentino assumir o poder em dezembro, tiveram um encontro frio, para dizer o mínimo.
Os dois dirigentes mal se entreolharam e posaram diante das câmeras com semblante sério e distante, o que contrastou com o restante dos apertos de mão dados pelo anfitrião Lula aos outros chefes de Estado e autoridades.
Mais tarde, Milei publicou nas redes sociais uma foto do encontro com Lula, bem como outra ao lado de Trump, na qual ambos estão sorrindo.
Além dos gestos, a Argentina também poderá pesar no resultado da cúpula. Buenos Aires levantou objeções ao projeto da declaração final e não tem "necessariamente" motivo para assinar o texto, indicou o chefe da delegação do país, Federico Pinedo, sem detalhar os pontos de desacordo.